terça-feira, 15 de junho de 2010

GOVERNO



Quando em Maio de 2007 António Rafael, dos Mão Morta, se deslocou ao Espaço da Censura Prévia, em Braga, para ver uma performance do escritor Valter Hugo Mãe e da pintora Isabel Lhano, integrada na série Mini-Espectáculos Para Ficar a Saber Cada Vez Menos Sobre o Amor, não podia adivinhar que estava a dar o primeiro passo para protagonizar uma nova revelação na música portuguesa. Mas ao ouvir Valter Hugo Mãe cantar, no decorrer dessa performance, percebeu que tinha encontrado a voz ideal para um tema que andava a compor, dos muitos que ia acumulando na gaveta à espera de melhor destino. E logo o convidou para essa tarefa de lhe dar voz (e letra), no que viria a ser a canção Nome de Ninguém. Entretanto, face ao bem sucedido da experiência, Valter Hugo Mãe desafia António Rafael a mostrarem ao vivo esse tema, porventura com mais uma ou outra cover de canções conhecidas, na sessão das Quintas de Leitura do Teatro de Campo Alegre, no Porto, marcada para Janeiro de 2008, onde iria divulgar o seu novo livro de poesia Bruno. António Rafael não só aceitou o desafio como contrapôs tocarem meia dúzia de originais, em vez das covers. Para isso chamaram Miguel Pedro e Henrique Fernandes, companheiros musicais de António Rafael, respectivamente, nos Mão Morta e no projecto Estilhaços, e em Outubro de 2007 entregaram-se à tarefa de escrever, compor e ensaiar os temas que iriam interpretar no espectáculo Facínoras das Quintas de Leitura. Mas o que se previa ser uma exibição única acabou por deixar marcas, não só em quem teve o privilégio de os ouvir mas também nos próprios autores. E decidiram repetir a experiência nas apresentações do novo romance de Valter Hugo Mãe, O Apocalipse dos Trabalhadores, realizadas na Livraria 100ª Página, em Braga, em Julho de 2008, e na FNAC Colombo, em Lisboa, em Setembro seguinte. Definitivamente havia ali um grupo e material musical que era preciso não só não deixar morrer como levar ao conhecimento de um público mais vasto. A editora independente Cobra propõe-se então editar um disco do colectivo, que depois de alguma indecisão na definição do nome, entre o Facínoras do espectáculo em que primeiro se apresentaram ao vivo e o Cabesssa Lacrau que durante uns tempos reivindicaram, acabou por ficar O Governo. Formado que estava o Governo, entraram em Abril de 2009 no estúdio de Mário Pereira, no Porto, e calmamente, ao ritmo das disponibilidades de cada um, e já sem Henrique Fernandes, foram gravando e fixando um programa de governação. A primeira amostra pública desse programa foi Meio Bicho e Fogo, editada na colectânea Novos Talentos FNAC 2009 em Junho de 2009, a que se seguiu o EP Propaganda Sentimental, editado pela Colecção Optimus, com os temas Propaganda Sentimental, Alguém no Futuro, Meio Bicho e Fogo, Nome de Ninguém e Inauguração do Mundo.



Refs.:Y.,W.,H.Onofre

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