sábado, 27 de junho de 2009

Roxigénio


Os Roxigénio iniciam as suas actividades em 1980, tendo ao comando António Garcez (vindo dos portuenses Arte & Ofício).

Com 33 anos, Garcez era uma figura da Rock português que não passava despercebida, devido às suas "performances" em palco e a algumas declarações polémicas que produzia em palco ou em entrevistas a órgãos de comunicação social.

Após ter passado pelos Pentágono e Psico, para além dos Arte & Ofício, Garcez recruta o guitarrista Filipe Mendes (que vinha dos Psico e tinha passado pelos Heavy Band e os Chinchilas), o brasileiro Betto Palumbo, na bateria e o baixista José Aguiar para dar forma a um projecto musical muito próximo do Heavy-Metal, sem influências da New-Wave.

No final de 1980 sai o seu primeiro LP "Roxigénio", com uma bela capa, mas cujo conteúdo musical deixava algo a desejar. Cantando em inglês, o grupo tem muitas limitações a nível da pronúncia do idioma, apesar de Garcez ter cantado em inglês nos Arte & Ofício. O disco consegue algum sucesso no programa radiofónico "Rock em Stock" e o grupo alcança alguns dos seus objectivos. Apesar disso, o seu sonho de internacionalização esfuma-se com este disco pobre musicalmente e sem hipóteses de passar além de Portugal.

Em 1981, os Roxigénio lançam o single "Song at Middle Voice", que atinge o primeiro lugar no top do "Rock em Stock". No lado 2 deste single encontra-se o tema "My Vocation". Neste disco o som Heavy é mais notório e Garcez melhora o seu sotaque inglês.

O ex-Mini Pop Abílio Queiroz entrara para a bateria [participa já no single "Song At Middle Voice"] e Garcez dá uma entrevista ao "Se7e" onde declara que os Roxigénio estão 20 anos à frente de Rui Veloso.

Em 1982 a banda lança o seu segundo disco de longa duração "Roxigénio 2" que inclui o "hit" "Stiff Nicked Obstinated".

Muito solicitados para espectáculos, os Roxigénio visitam o Sabugal para darem um concerto no dia 13 de Novembro de 1982, onde todas as capacidades do grupo puderam ser vistas e ouvidas. O concerto não desiludiu quem esteve atento. Garcez continuava a ser um verdadeiro "animal de palco" e Filipe Mendes um guitarrista multifacetado.

Em 1983 sai o terceiro disco "Rock'n'Roll Men" que nada acrescenta de relevante em relação ao que se conhecia. Da actual formação fazem parte dois ex-Go Graal Blues Band (Hipo Birdie e Fernando Delaere), para além de Frederic, nas guitarras, fazendo acompanhamento a Filipe Mendes.

Este disco revela-se um fracasso e o grupo tenta a sua aproximação ao público cantando em português.(1 Sem chegar a gravar, nesta nova fase, com uma formação que incluía saxofone, apresentam-se num programa de música da RTP2.

Por falta de interesse do público o grupo dissolve-se e Garcez ainda se juntará aos Stick (banda efémera) (2) e gravará em português com os Trabalhadores do Comércio, onde encontra os seus antigos companheiros dos Arte & Ofício.

Filipe Mendes parte para os Estados Unidos e regressará, já nos anos 90 como Phil Mendrix para participar em espectáculos com os Irmãos Catita.

ARISTIDES DUARTE / NOVA GUARDA

Nos meados de 1980, Garcez apresentava os Roxigénio, uma banda de rock "pesado" em que pontificava o guitarrista Filipe Mendes, também conhecido como "Mendrix", por distorcer a guitarra como Jimi Hendrix. O álbum da banda saiu no fim desse ano, muito bem aceite por nomes da rádio como Luís Filipe Barros, Rui Morrison e Rui Neves.(...)

Uma noite, em pleno Festival Só Rock, em Coimbra, Garcez lembra-se de ter "aviado umas canecas" em companhia de Luís Filipe Barros e de entrar em palco a "100 por cento". Num momento "high" do show resolveu atirar-se de cima das colunas de som e caiu mal. O pior ainda estava para vir. O público, em pleno boom do rock português, não gostou de o ouvir cantar em inglês e gritou: "Vai cantar para a América!" António resolveu responder à letra: "Ai é? uuuuuuuhhh" Despiu as calças, tirou tudo para fora e gritou: "A América está aqui!" No estádio encontrava-se o presidente da câmara. Vários fotógrafos eternizaram a cena. "Até me fotografaram o rabo." Foi investigado pela Polícia Judiciária: "Tudo a rir e a dizer, 'ouve lá, a gente diz que só viram as cuecas...'" A exibição custar-lhe-ia o casamento.

Os Roxigénio terminaram em 1983, depois de passagens agitadas por Aveiro e por Vilar de Mouros, em 1982, no ano em que lá foram os U2. Em Aveiro, numa festa de finalistas, Garcez foi presenteado com vários copos de cerveja. "Avisei que podia ser electrocutado mas havia um gajo à frente do palco rodeado de miúdas e sempre a provocar. Como estávamos todos a tripar em ácido, de repente saí em voo e aterrei em cima dele e das miúdas. Só me lembro dele a chorar debaixo de mim e a dizer que só estava a brincar comigo. Levantei-me, o pessoal pegou em mim, colocou-me de novo no palco e o show continuou." Mais tarde, um dos seguranças resolveu bater em alguém que tinha subido para o palco. "Foi o fim do mundo. O palco foi invadido, o segurança levou uma tareia e por fim apedrejaram-nos o camião da aparelhagem. Tivemos de ser escoltados pela policía." Em Vilar de Mouros, os Roxigénio pouco conseguiram tocar. "O pessoal que estava no festival tinha dificuldade em conseguir tabaco, comprei uns maços e resolvi distribuir, atirar para a plateia." Ao fim de música e meia, a assistência invadiu o palco. Garcez "bazou".

A crise económica dos anos 80 atingiu o mundo do rock português. António e Sérgio Castro ainda fundaram os Stick, em 1984, gravando um LP em português. "Sempre vivera para cantar, daquela vez cantei para viver", recorda. Desiludido, em Fevereiro de 1986 meteu-se num avião para Nova Iorque. (...) Até que, há dois anos, um amigo português enviou-lhe uma cópia de uma PÚBLICA com um artigo a recordar o boom do rock português dos anos 80. Perguntava-se: "O que é feito de António Garcez?" O texto, confessa agora o cantor, tocou-o emocionalmente. "Eu li aquilo e disse: 'Uau, não fui esquecido, afinal Portugal não é só o Tó Zé Brito e os azeiteiros das editoras'". O mesmo amigo arranjou-lhe uma editora, a Numérica. Garcez veio gravar a Portugal temas da sua autoria, alguns na gaveta há muito, caso de "Como um herói", a balada do cd "Rio Abaixo". Tocou no Porto, em Cascais e em Lisboa. Na Fnac, no Norte Shopping, ainda bateu com o micro no tecto, como nos velhos tempos. "Que se lixe o estúdio, man, eu quero é tocar novamente ao vivo!"

Refs. Jornal P.2001,B.M.

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